sábado, 1 de agosto de 2009

Memórias! O Vento e a Água!

Minha tia Ti Aurora
Cú p´ra dentro, cú p´ra fora
Com uma cara de pasmar
Que há primeira mijadela
Faz andar um barco á vela
E encher um alguidar
(Pr'ó barco não encalhar)

Rabão relata um passado dos meus avós maternos como barqueiros por conta própria comprando, transportando e vendendo no Porto


O Piloto Mentor Companheiro Inseparável Rio Douro

Cozinheira, lenheira, pescadora - Elisa da Presa, a minha mãe
Ajudantas - Lete e Sabina, tias
Comandante - Jaquim Ferreira ( O Guerguenteiro), avô paterno
Lavadeiras - Júlinha e Guida Serralheira, tias
Matador de gado - João Coveiro, tio
Moço da Loja - Simão, tio
Santo e Senha - Pataca a ti, cartilho a mim
Repita - Pataca a ti, cartilho a mim
Amanho de Peixe - Ana, prima
Pescadores, Sapateiros - António e Jósé Ferreira (irmão), Ti Albano (amigo), para cortar de novo a rede ao meio em Alpendurada.
Responsável Eclesiástico - Ex- seminarista Mota (cunhado) e Quim Ferreira (irmão)
Sacristão 2ª das nove sextas-feiras - Jejum para tomar Hóstia
Figos da Figueirado - Tapado do Coelho
Cão de Bordo Jolim
Pregoeiras do Peixe - Guida Ferreira (avó paterna) e Olivinha Gordinha (tia materna)
Costureira - Margarida

Barco de Apoio - Rabão do Avô e Avó materna Manchica.
Restante Guarniçao do Rabão - Tios e tias maternas e Manel e Luísito, padrinho e afilhados
Responsáveis pelo Toque músical de Largada - Valdemar e Quim Ferreira (aprendizes da Banda de Rio Mau)

Ouvem-se os Sinos! Santo Ildefonso em Midões/Gondarém e em S. Brás em Canelas, na igreja matriz da Raiva, o carrilhão em S. Domingos da Serra e na igreja matriz de Sebolido, na capela da Senhora das Amoras, porque hoje é lá a festa. Dia 8 de Setembro a mãe Elisa festeja o seu aniversário. Vai cantar-lhe os parabéns.
A largada está a apróximar-se. Oliveira do Arda, Raiva, Gondarém, Midões e Cancelos estão emocionadissimos. Ordem do Comandante Guerguenteiro para tocar á faina. Todos aos seus postos. Ordem para recolher o primeiro cabo e a espia da lingueta.
O Ujo das Fragas do Vale Escuro dá um uivo, faz o primeiro reconhecimento. Faz-se acompanhar de incontáveis perdizes que tapam o sol por completo e dificultam as manobras. Os Coelhos que estavam a filmar deixam de ter claridade e não podem prosseguir o seu trabalho por ainda não existirem Flashes. Os Muges comandados pelo António, O Grande Muge, saltam de contentes. Barbo, Escalo, Voga, Enguia e a Lampreia dobram-se todos. O Sável, esse deixa correr regressa pequeno ao mar alheando-se da confusão. As perdizes teimam em continuar.
O Comandante Guergueteiro a tremer que nem varas verdes, lança um S.O.S. Saiem de Cú para a Porta. O Paulo, a Guilhermina, a Sapeira, a Moira, a Rosa a Guida e a Matilde disparam a artilharia. Pouco depois o céu voltava á normalidade, mas os gases peidémicos eram asfixiantes. Valeu a ajuda preciosíssima das moscas, que morreram aos milhares, asfixiadas.
Todos foram condecorados e ficaram a ter «Cús de Guerra Anti-Aérea». Um percurso memorável numa viagem histórica, ainda hoje se recorda o forte Mosqueteiro e Jeropiga que muito contribuíram para impedir a penetração do frio corpos adentro.
Um fim quase trágico, quando o Muge entornou jerupigamente e quase morria congelado junto á casa do Zé do Paulo.
Lá fomos, rio acima, os Portelos, a Bitoreira, a Cortiça, o Remesal, a Seixinha, Figueirido, Linhares, tudo estava ali, mui sorridentes como quem a desejar-nos uma boa continuidade e um melhor regresso.
A Valsa, Oliveira, Reguenga e Entre-Os-Rios, até o comboio e Linha inaugurados no tempo de jovem do meu Avô nos esperavam. Passamos a Ponte e tamanho o susto tivesse o pressentimento que ela nos estava a caír em cima. Dizia o meu avô que ela já tinha estado quase a caír na grande cheia de 1909 e ele que era natural do Torrão, sabia do que falava.
Felizmente, foi ilusório e continuamos viagem, frente ao Torrão na Varzea do Douro. Como na Varziela que nunca venta. Mas a minha Tia Aurora, com os «ventos silenciosos» da prima Barrota lá provocavam ventos sufcientes para que barco e o rabão se fossem movimentando.
Sem que nada o fizesse prever os «sopros» habituais do meu irmão, o Auim, e os mal-cheirosos do Zé, os inesperados do Tarim Ternina, lá contribuíram para que os barcos se apróximassem dos dez nós/hora.
Navegamos frente à Quinta Narciso, acabamos de entrar no Poço do Castelo. O Comandante Supremo manda apitar novamente á faina porque decidiu fundear as embarcações para o almoço.
Começamos a falar, eu e o meu rio. Tinha decidido que seria hoje o dia D para lhe confidenciar tudo sobre a minha segunda mãe, a qual dá pelo nome de Armada, o mesmo de (Marinha de Guerra Portuguesa) e o que ela me tinha proporcionado, encorajando-me sempre para que eu gostasse mais e cadaz vez mais da minha mãe Elisa. Esta Dona Senhora não tem ciúmes dos seus filhos, ao contrário de nós.
Agora tocou para Almoço, retomaremos a conversa depois de almoço. Depois do repasto e uma soneca de repouso, um pouco prolongada, porque o vento teimava em não caír, vamos prosseguir a viagem. Não poderemos de forma alguma incriminar o vento por tardar em soprar, devemos isso sim agradecer-lhe.
São 15.00 horas e todo este tempo serviu para se colocar a conversa em dia. Nós os mais novos, divertimo-nos imenso, funcionou o jogo do Pião, o saltar á Macaca e ainda sobrou um pouco de tempo para jogar á Pincha (Botão). Os homens, esses foram-se divertindo com uma forte e bem ralhada suecada, enquanto os outros iam jogando á Malha. As Mulheres, essas depois de lavar as louças, preferiram dar á tramela e colocar a conversa em dia.
Certo que o Vento não sopra muito forte, mas como o tempo que dispomos para esta viagem é ilimitado, o importante é que ela continue a correr harmoniosamente como até aqui e por outro lado o vento ao soprar brando, proporciona-nos, uma melhor miragem,o mesmo é dizer, podemos mais calmamente admirar estas maravilhosas paisagens ao pormenor.
Deixamos há pouco o areio de Sebolido, o Castelo continua lindo como sempre. A Ilha dos Amores e o Rio Paiva continuam com uma atracção invejável. Um e outro parecem estar a convidar-nos para que estejamos com eles mais tempo. Gostariamos imenso e seria com enorme satisfação que o faríamos, mas o prometido é devido e como tal temos de continuar viagem. Teremos a oportunidade de encontrar novos atractivos e como sempre estamos convictos que no final da viagem não vamos poder eleger ou destacar um local em especial, já que todo o percurso é de uma atracção apaixonante.
Estamos já perto do Cais de Escamarão, do lado esquerdo fica a bacia de Bitetos, o avô Jaquim (O Garguenteiro) já reuniu as tropas e deu ordem para atracarmos no Cais em Bitetos.
Certo que andamos poucos nós e quando o vento sopra razoávelmente bem, parar por volta das 4 da tarde não parece boa ideia. Mas como se diz na Gíria, que se perca a batalha, mas nunca os bons costumes. Para um bom pescador, que se preza de o ser, a paragem em Bitetos, é mais que um dever, é uma obrigação.
Certo que a paragem não será longa, o tempo de chegar á Tasca, comer umas latinhas de atum, ou então, se os houver, há que comer uns Barbitos Fritos e umas Azeitonas.
Tudo correu de acordo com o previsto, são 17 horas e o vento continua a soprar, já tocou de novo á Faina e as velas começaram a ser içadas.